segunda-feira, agosto 02, 2004




O Alistamento - O Paredão (Parte III)




Como eu ia dizendo, as 3 filas estavam formadas.
Esperamos ali em pé durante cerca de meia hora (tempo esse que eu tenho sérios motivos pra desconfiar que eles nos deixam esperando de sacanagem) até que apareceu um médico. Vestido de branco e tal.

- Tá, mas qual era a especialidade dele? Médico é muito abrangente. Oftamologista, ortopedista?
Sei lá, mermão. Só sei que era médico.

Então, depois de um soldado mandar a gente calar a boca - sim, eles adoram fazer isso - o médico se pronunciou:
- Bom dia, vítim... digo, pessoas! *
- Bom dia!
- Seguinte. Vou passar de fila em fila e quem tiver atestados - pode ser de escoliose, miopia, fratura exposta - levante o dedo. Oh sim, e em seguida ME MOSTRE! Entendido?


Perceba que eles no deu um leque de opções de possíveis problemas. Você aí, que está lendo esse texto, e não sabe que problema inventar ainda, escolha entre esses! Escoliose é o mais batido, mas é também o mais popular. Todo mundo tem uma escoliosezinha. Você não sabe mas deve ter, aposto. Todo mundo tem.

Mas como eu ia dizendo, o (pff..) médico começou a passar pelas filas. Quando ele começou a passar pela primeira, eu logo achei que mais da metade dela levantaria o dedo. Achava que todo mundo queria uma desculpa pra não servir. Ledo engano. Apenas QUATRO de uns 40 levantaram o dedo. "Interessante", pensei. Parece que o pessoal tá afim de servir mesmo, não é balela.
Ao olhar com mais atenção para as outras filas, percebi também que 90% delas eram compostas por negros. A maioria de origem humilde, notava-se. 37% deles usavam bigodinho. Bigodinho era style lá em Triagem; quem não o usava estava por fora, out.

Enfim, o médico (pff!) passou pela segunda fila com mais 5 distintos rapazes de bigodinho levantando o dedo - falando sério agora, eu estava me sentindo mal por não usar bigodinho. Esses NOVE melian... digo, indivíduos que já haviam levantado o dedo e mostrado atestado eram separados do grupo original, e levados pro... PAREDÃO!
Sim, pro PAREDÃO! O nome dava medo mesmo.



O paredão era mais ou menos assim. Mas sem os números.


- Tem alguma coisa, meu filho?
- Tenho, 9 graus de astigmatismo. Sou quase cego, sr. (pff...) Médico!
- Vai pro PAREDÂO!
- aimeudeus.


Mas o interessante mesmo é que ele não conferia direito os atestados; ele dava uma olhada superficial e já mandava pro PAREDÃO. Ele acreditava na sua palavra. Acreditava na sua honestidade, cria (porra, palavra horrível) piamente na sua incapacidade em servir às forças armadas. Nesse momento, fiquei divagando sobre os possíveis diálogos travados entre o (PFF!) médico e os futuros dispensados:

- O que você tem, meu filho?
- Ah, eu tenho uma pinta.
- Porra, uma pinta! Tá fazendo o que nessa filha ... digo, fila, meu filho? Vá já pro PAREDÃO!
- yes!

- O que você tem, meu filho?
- Uma mancha. Se quiser posso até mostrar pro senhor e... [abre a braguilha]
- Não não! Confio na sua palavra! PAREDÃO pra você!
- uhul!


Chegara a hora de passar pela 3º fila, na qual eu me encontrava. Eu, já com meu atestado de cego... digo, de miopia na mão - tenho quase 6 graus, sou praticamente cego - estaria garantido na lista dos "emparedados".
Mas...

FIM DA PARTE III

* ele não disse isso, foi pra dar um toque de comicidade ao post.


Escrito por Eduardo @ 1:56 PM, |

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O autor

Eduardo Carvalho

Essa imagem retardada aí do lado veio com o template. Em tese, eu deveria trocá-la por uma foto minha e colocar um perfil aqui - porém, isso dá uma certa mão-de-obra. Por conseguinte, essa porra retardada permanecerá aí do lado enquanto a preguiça não me permitir tirá-la. Portanto, provavelmente, até o fim do ano. De qualquer forma, não me incomoda muito. Enquanto isso, eu tenho que deixar um texto aqui enchendo linguiça, pra tentar preencher esse retângulo. Juro que fiz meu máximo.

Sobre o blog

Esse blog foi criado no início de 2003, há cerca de 6 anos atrás, quando eu era um pivete que nem sabia escrever direito ainda. Portanto, eu não recomendo os arquivos. Eu fazia piadinhas bobas e sem graça. Quanto ao nome, "Faz Sentido", refere-se á uma expressão que eu usava muito na época. Disso, eu não me envergonho tanto. Criar nomes para blogs não é fácil.

Duvida?

Pensa num aí.

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