domingo, fevereiro 12, 2006






O vento soprava contra a janela fazendo-a bater violentamente. Acordei-me assustado, com a garganta seca de quem bebeu a noite passada. O dia nublado, o vento, a certeza de chuva a qualquer momento a partir de agora, tudo isso faziam o ato de acordar um sacrifício terrível.
Pra que acordar? São oito e trinta e cinco da manhã. Não vou ter o que fazer para ocupar tanto tempo. Se existe algo que eu detesto são dias longos. Só de pensar nas horas que você precisa matar até dormir de novo, e em como você vai fazer isso, da vontade de vomitar.
Corri os olhos pela bagunça do meu quarto. Peguei o telefone. Meus dedos se moviam rapidamente pelas teclas. O sinal chamava em vão por alguém que não viria atender o telefone naquela manhã de domingo. Larguei o telefone contrariado, coloquei um casaco sobre as roupas, havia dormido de roupa, peguei as chaves e sai de casa.

Logo que entrei no elevador ele parou para pegar mais um passageiro, ninguém mais que um velho que morava no andar de baixo, aquele tipo de pessoa que sacode a cabeça e murmura qualquer coisa, visivelmente chateado por ter que cumprimentar alguém. Não culpo o velho, curvei a cabeça levemente respondendo aquele ensaio de cumprimento com outro mais ordinário ainda, amaldiçoando por dentro aquele homem por estar dividindo o mesmo elevador que eu.
Mesmo com uma pessoa mais que a lotação ideal o elevador chegou rápido no térreo. Atravessei a portaria e dei bom dia para o porteiro. Imigrante desgraçado. Tinha certeza que ele não ia com a minha cara, não que eu quisesse ser amigo do porteiro, mas um rosto amigável abrindo a porta e te entregando a correspondência, sem que você tenha que questioná-lo, não é pedir muito.

Caminhei dez minutos até a padaria no frio. Caminhar faz bem, faz você se sentir mais vivo. Por dez minutos tive um lugar para ir e algo pra fazer. Algumas pessoas são conhecidas em restaurantes, quando elas chegam recebem uma boa mesa, o garçom lembra o que elas bebem, e sua comida vem menos cuspida que a das outras pessoas. Eu era reconhecido nessa padaria. Quando chegava, eles já sabiam como eu gostava do meu café e do meu sanduíche, as vezes até arredondavam o troco pra não me fazer carregar moedas. São essas pessoas que arredondam cinco centavos que deveriam governar o mundo. Alguém que se preocupa que o outro vai carregar muitas moedas no bolso sem duvida tem um bom coração e a sensibilidade que falta para muitos.

Só sai de casa mesmo porque não ia agüentar ficar lá, porque se ficasse provavelmente andaria em círculos procurando por alguma revista velha. Fico um pouco deprimido pensando assim, não sei se era o clima aquele dia. Pensei tanto em como seria minha tarde sozinho em casa que comprei uma revista nova, era o mínimo que eu podia fazer.

Caminhei de volta para casa, devagar, rezando pra não chegar nunca, e ter de ficar preso no templo do ócio que era aquele lugar. Virei a esquina resmungando com um gato que cruzava meu caminho, só então percebi o barulho, que me fez levantar a cabeça, e por fim ver três carros de policia chegando como se fosse o final de um daqueles filmes de gangsters. Virei mais uma vez pra ter certeza que não tinha sido um gato preto. Malditos gatos malhados. Será que dão azar também?
Os carros da policia pararam, em frente ao meu prédio, logo antes dos policiais saírem correndo e invadirem a portaria com armas em punho. Malditos gatos malhados pensei mais uma vez, com certeza estavam dando azar também.
Resolvi entrar no prédio, não estava com tanta sorte assim pra levar um tiro. O que mais poderia acontecer? Na certa alguma senhora escorregou no banheiro e pediu por socorro, alguém acordou um pouco assustado, e quando você percebe seis policiais armados invadem seu prédio dez horas da manhã.

Devia ter pensado duas vezes antes de entrar no prédio. Nunca tinha visto tanto sangue, tripas e órgãos espalhados, nem mesmo nos canais de vida selvagem da tv a cabo. Aparentemente algum espertinho resolveu arrancar toda a pele de um infeliz na minha portaria. Deve ter dado muito trabalho arrancar toda a pele de alguém, inclusive nas dobrinhas. Podia ter sido obra de um maníaco, mas era um maníaco talentoso, sempre quis saber limpar um peixe daquela maneira, mas nunca consegui.
Não sei se foi porque estava pensando em peixe, ou toda aquela carne crua pedindo por um espeto na minha portaria, mas acabei ficando com fome de novo. Culpa dos sanduíches da padaria que só enganam. O que uma pessoa precisa fazer para tomar um café da manha de qualidade no Rio de Janeiro?

Continua.


Escrito por Nigel Goodman @ 8:10 AM, |

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O autor

Eduardo Carvalho

Essa imagem retardada aí do lado veio com o template. Em tese, eu deveria trocá-la por uma foto minha e colocar um perfil aqui - porém, isso dá uma certa mão-de-obra. Por conseguinte, essa porra retardada permanecerá aí do lado enquanto a preguiça não me permitir tirá-la. Portanto, provavelmente, até o fim do ano. De qualquer forma, não me incomoda muito. Enquanto isso, eu tenho que deixar um texto aqui enchendo linguiça, pra tentar preencher esse retângulo. Juro que fiz meu máximo.

Sobre o blog

Esse blog foi criado no início de 2003, há cerca de 6 anos atrás, quando eu era um pivete que nem sabia escrever direito ainda. Portanto, eu não recomendo os arquivos. Eu fazia piadinhas bobas e sem graça. Quanto ao nome, "Faz Sentido", refere-se á uma expressão que eu usava muito na época. Disso, eu não me envergonho tanto. Criar nomes para blogs não é fácil.

Duvida?

Pensa num aí.

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