sábado, agosto 07, 2004
Palhaços
Tinha uma relação interessante com palhaços quando era pequeno.
Palhaços me causavam duas reações adversas: riso e medo. Certas vezes eu ria com eles, certas vezes chorava. Sentimentos conflitantes que se misturavam dentro de mim.
Lembro de como eu os achava engraçados.
De como ria quando um palhaço jogava uma torta na cara de outro, ou quando escorregava numa casca de banana. Humor simples, porém naquela época eficaz.
Mas também lembro de como eu os temia.
Aqueles sapatos desproporcionais, o cabelo vermelho - as pessoas normais não tinham cabelo vermelho! - bizarramente penteado e aquele sorriso permanente no rosto me incutiam um medo inexplicável.
Lembro de minha festinha de aniversário de 6 anos, onde um primo meu se fantasiou de palhaço. Enquanto ele estava longe de mim, brincando com uns amigos meus, eu ria dele. Gargalhava. Entretanto, quando ele se aproximava eu começava a chorar. Não queria a presença dele perto de mim. Não sei porque, mas aquele palhaço tão divertido que me fazia rir quando estava longe de mim, ao se aproximar me fazia chorar.
Ou seja, aquele mesmo palhaço que me fazia rir me causava decepção. Decepção não COM ele. Ele apenas fazia seu papel, tentava me alegrar. Na verdade, eu sentia cecepção comigo mesmo. Decepção por não conseguir lidar com ele, ficar perto dele, rir com ele.
Bons tempos aqueles em que eu me decepcionava com palhaços.
...
O tempo passa, a gente cresce. Não lida mais com palhaços. Lida com pessoas, e elas não estão muito afim de brincar. Na verdade, a maioria delas nem sequer SABE brincar. Contudo, é no meio desse mar de pessoas sem senso de humor que teremos que viver. E é chato viver num mar de pessoas sem senso de humor; por isso, quando você acha uma pessoa com senso de humor nesse mar, você tem que pescá-la o mais rápido possível, antes que a correnteza a leve. E essa pessoa se torna especial pra você.
Nesses tempos, palhaços já não mais são engraçados, são bobos. Foi-se a magia. Então quem assume a responsabilidade de nos fazer rir são as pessoas mesmo. E dentre essas pessoas que tem a missão de nos fazer rir, uma se destacou em minha vida. Finalmente havia encontrado alguém diferente, alguém que sabia brincar. Alguém que me remetia ao tempo dos palhaços. Alguém que me fazia rir. Isso me fez voltar a ser criança por um bom tempo.
Porém, nada dura para sempre.
Tudo que é bom dura pouco
Veja como o destino é brincalhão: essa mesma pessoa que me fazia rir, me fazia esquecer que preciso ser uma pessoa séria - assim como os palhaços faziam - também me fez sofrer - assim como os palhaços faziam também. As mesmas conflitantes reações que eu experimentei com os palhaços na minha infância voltaram na minha adolescência: riso e choro. Angustiante.
Lembra que eu ria do palhaço quando ele estava longe de mim? E que quando ele se aproximava eu chorava? Então. Aconteceu exatamente o mesmo. Inexplicavelmente, essa pessoa se tornou uma espécie de palhaço na minha vida: de longe, me fazia rir. De perto, sofrer. E o mesmo sentimento que nutri durante toda a minha infância pelos palhaços voltou muito mais forte do que nunca com essa pessoa: a decepção.
Exatamente o mesmo tipo de decepção que sentia na época de criança: decepção comigo mesmo. Decepção por não conseguir lidar com a situação. Decepção por ter agido do jeito que agi. Decepção por ter nutrido expectativas de riso no final da história.
Sem expectativa, sem decepção.
As duas histórias acabam do mesmo jeito, com o palhaço chorando.
...
E o palhaço, no caso, sou eu.
Escrito por Eduardo @ 10:18 PM, |
O autor
Eduardo Carvalho
Essa imagem retardada aí do lado veio com o template. Em tese, eu deveria trocá-la por uma foto minha e colocar um perfil aqui - porém, isso dá uma certa mão-de-obra. Por conseguinte, essa porra retardada permanecerá aí do lado enquanto a preguiça não me permitir tirá-la. Portanto, provavelmente, até o fim do ano. De qualquer forma, não me incomoda muito. Enquanto isso, eu tenho que deixar um texto aqui enchendo linguiça, pra tentar preencher esse retângulo. Juro que fiz meu máximo.
Sobre o blog
Esse blog foi criado no início de 2003, há cerca de 6 anos atrás, quando eu era um pivete que nem sabia escrever direito ainda. Portanto, eu não recomendo os arquivos. Eu fazia piadinhas bobas e sem graça. Quanto ao nome, "Faz Sentido", refere-se á uma expressão que eu usava muito na época. Disso, eu não me envergonho tanto. Criar nomes para blogs não é fácil.
Duvida?
Pensa num aí.
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